O jornalismo investigativo e sua relação com os crimes financeiros norteou a mesa redonda composta pelos jornalistas Kátia Brembatti (Gazeta do Povo), Fábio Serapião (O Estado de S. Paulo) e Rubens Valente (Folha de São Paulo). O debate foi realizado durante o segundo dia do Fórum Nacional sobre Crimes Econômico-Financeiros, realizado em Curitiba pela Associação Nacional de Peritos Criminais Federais (APCF), nesta 4ª feira (13/03).

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O perito José Viana Amorim foi o mediador da mesa. Durante a palestra, ele deu destaque para o papel do jornalismo. “Existem dois pontos fundamentais do jornalismo investigativo, que é a busca pela verdade e a necessidade de juntar casos da realidade e estabelecer uma relação entre eles”, disse Viana.

Vencedora de diversos prêmios pela série Diários Secretos, que revelou um esquema bilionário de corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), Kátia Brembatti recordou que o trabalho realizado neste caso pode ser denominado como jornalismo investigativo na origem, pois demandou a apuração de documentos e criação de banco de dados do zero.

“A investigação foi importante porque, até então, só se mostravam casos isolados. Com ela, evidenciamos que a questão era institucionalizada e atingia todos os gabinetes, em um sistema altamente viciado”, disse.

Hoje, ela acredita que a imprensa vive em outro extremo, com um volume imenso de informações disponíveis. Segundo Kátia, existe atualmente uma tendência chamada de jornalismo de dados. “Ainda assim, acredito que a relação com a fonte se mantém primordial, pois dependemos do conhecimento qualificado, técnico e da credibilidade de nossas fontes”, resumiu.

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Para o jornalista Fábio Serapião, a Operação Lava Jato representa um divisor de águas na investigação e divulgação da imprensa nacional. Ele, que atua na editoria de Polícia Federal do veículo, relembrou que antes a atuação do jornalista dependia da sua relação com as fontes, entre peritos, delegados, procuradores e juízes. “A Lava Jato mudou a chave a partir da transparência das informações permitida por seus atores”, disse.

“Acredito muito na importância *do profissional da imprensa se comunicar*, mostrar que não é inimigo de ninguém. Somos intermediários da notícia, com a missão de coletar a informação da fonte primária, tratá-la de forma adequada e expor para população. É fundamental que delegados, procuradores, peritos e juízes tenham essa atenção e saibam que a mídia é uma parceira de seu trabalho e da sociedade”, encerrou.

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Autor do livro “Operação Banqueiro” – que relata os bastidores da Operação Satiagraha e explica detalhes sobre a prisão do banqueiro Daniel Dantas –, o jornalista Rubens Valente ponderou que, em seus 30 anos de carreira, nunca vivenciou um ataque tão sistemático à imprensa. “Por isso, abrir espaço em um evento deste nível para a discussão com a imprensa é fundamental para valorizar nossa atividade”, comentou.

Na avaliação dele, mesmo com o avanço da tecnologia e o consequente poder das redes sociais, o contato com a fonte ainda é determinante na realização de uma boa matéria, pois é ela quem vai indicar um caminho, mostrar a visão e filtrar as informações erradas. “Contamos com mecanismos de controle em nosso trabalho, pois submetemos a matéria a um checador, ao crivo do editor, ao olhar do ombudsman e até mesmo à concorrência, que ataca quando divulgamos algo errôneo, por isso temos que realizar nosso trabalho com extremo zelo”, concluiu.

Fotos: Enéas Gomez